Sobre minha vida
amorosa, só tenho a te dizer que não me arrependo.
Digamos que minha
vida amorosa seja tratada como todos os primeiros meses de meus
relacionamentos. Vejo-a com uma infinidade de coisas bonitas,
gramados verdes, filtros dos sonhos, que agradam meus olhos e também
os sorrisos, aqueles brancos com as fronteiras de todos os lábios
macios se distanciando o máximo que conseguiam, seguidas de uma bela
gargalhada ou risadinha tímida.
Esqueço o que se
passa depois desse primeiro mês. Tento não guardar rancor por nada
o que acontece em minha própria mente, e muitas vezes o preço a se
pagar por isso é esquecer o que aconteceu.
É fácil perceber
que meus dias já não correm mais. Normalmente eu me lanço à meta
de não cair sobre esse véu amoroso que nos cerca, mas a vida não
nos dá muitas escolhas. Quando reencontro com essas profundas
decepções, acabo no cantinho do meu quarto, acolhido pelo conforto
da minha coberta e alguma coisa que fugisse à mente na tela do
notebook ou nas letras de um livro.
Assim ficava, até
perceber que passou.
Quando saía ao Sol,
já não era mais dia. Voltava e dormia.
Em muitos momentos
acabei em pesadelos profundos, e acordava durante a madrugada
soluçando sem conseguir respirar muito bem, e foi numa dessas que
decidi caminhar.
Não havia mais
ninguém na rua como é claro de se pensar para essas horas da noite,
porém de alguma forma, você esperava pelo ônibus.
Não sabia dizer se
era uma das primeiras ou últimas rotas daquele dia, mas você estava
lá, e parecia também não saber dizer, pois ele não passou.
Em vez disso,
ficamos conversando horas e horas até a escuridão dar lugar ao
cantar dos pássaros.
Sua solidão era
igual à minha, minha alma era igual à sua, estabelecendo palavras
soltas a cada resposta dada. Como naquele primeiro suspirar frio que
se dá quando acorda num sítio, encontrei-me sem poder me concentrar
na realidade de nossas palavras, e a noite foi e foi...
Mas então o ônibus
finalmente passou e você foi embora.
Já não sei se foi
um sonho, visto que assim que voltei, caí na cama novamente.
Escrevo isso para
que um dia talvez encontre isso em algum canto qualquer da internet,
e entenda que eu não te segui pois sabia que duraria apenas o
primeiro mês, para depois se transformar em outra miserável
história de arrependimento e esquecimento.
Mas agora, como
saberei eu, como seria subir naquele ônibus e te seguir pela vida?
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