domingo, 30 de agosto de 2015

O monstro que mora aqui dentro

Sobre minha vida amorosa, só tenho a te dizer que não me arrependo.
Digamos que minha vida amorosa seja tratada como todos os primeiros meses de meus relacionamentos. Vejo-a com uma infinidade de coisas bonitas, gramados verdes, filtros dos sonhos, que agradam meus olhos e também os sorrisos, aqueles brancos com as fronteiras de todos os lábios macios se distanciando o máximo que conseguiam, seguidas de uma bela gargalhada ou risadinha tímida.
Esqueço o que se passa depois desse primeiro mês. Tento não guardar rancor por nada o que acontece em minha própria mente, e muitas vezes o preço a se pagar por isso é esquecer o que aconteceu.
É fácil perceber que meus dias já não correm mais. Normalmente eu me lanço à meta de não cair sobre esse véu amoroso que nos cerca, mas a vida não nos dá muitas escolhas. Quando reencontro com essas profundas decepções, acabo no cantinho do meu quarto, acolhido pelo conforto da minha coberta e alguma coisa que fugisse à mente na tela do notebook ou nas letras de um livro.
Assim ficava, até perceber que passou.
Quando saía ao Sol, já não era mais dia. Voltava e dormia.
Em muitos momentos acabei em pesadelos profundos, e acordava durante a madrugada soluçando sem conseguir respirar muito bem, e foi numa dessas que decidi caminhar.
Não havia mais ninguém na rua como é claro de se pensar para essas horas da noite, porém de alguma forma, você esperava pelo ônibus.
Não sabia dizer se era uma das primeiras ou últimas rotas daquele dia, mas você estava lá, e parecia também não saber dizer, pois ele não passou.
Em vez disso, ficamos conversando horas e horas até a escuridão dar lugar ao cantar dos pássaros.
Sua solidão era igual à minha, minha alma era igual à sua, estabelecendo palavras soltas a cada resposta dada. Como naquele primeiro suspirar frio que se dá quando acorda num sítio, encontrei-me sem poder me concentrar na realidade de nossas palavras, e a noite foi e foi...
Mas então o ônibus finalmente passou e você foi embora.
Já não sei se foi um sonho, visto que assim que voltei, caí na cama novamente.
Escrevo isso para que um dia talvez encontre isso em algum canto qualquer da internet, e entenda que eu não te segui pois sabia que duraria apenas o primeiro mês, para depois se transformar em outra miserável história de arrependimento e esquecimento.

Mas agora, como saberei eu, como seria subir naquele ônibus e te seguir pela vida?

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